segunda-feira, março 28, 2005

FW: [tvzona] Para Outlook

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-----Original Message----- From: Alexandre Sב [mailto:a.barretto@uol.com.br] Sent: Wednesday, March 02, 2005 12:37 AM To: tvzona@yahoogrupos.com.br Subject: [tvzona] Para Outlook ----- Original Message ----- Faz tempo que não escrevo sobre amor. Amorzinho clichê de tema de poema que parece tema de novela. E de fato venho fugindo do tema como foge a cruz do diabo, exatamente por nunca saber o tanto de dor e delícia que suporto a cada experiência = mc2. Então resolvi deixar tudo no eu lírico. Deixar que este tal de eu lírico (que ainda assim é dele), tome o espetáculo da escrita e pinte palavras ao vento para ele de novo; sujeito indefinido que assopra minha casa vez por outra. Ele-lírico. É dele o poema e a minha escrita por agora. Ele-tu; que lês. Tu-nós de desejo de estar próximo. Sem mágoa e sem temas clichês de poemas como este. Sina de eterno retorno e síndrome de já ter escrito coisas como esta. Talvez o ame, se é isto que desejas saber. Talvez o odeie, se é isto que desejas não saber. Talvez os dois, para que não fique como cão aguado atrás de osso-migalha-de-afeto. E mesmo que suponha tudo isto, há algo dele que não abandona a paisagem. Há ainda algo dele que não abandona os pequenos gestos detectados quando acordo pós-noite-sem-maldição. Uma pseudo presença próxima dáquiles ocos que surgem quando a garrafa esvazia. Oco de esvaziamento de paisagem = necessidade torpe de assegurar alguma certeza entre linhas. A partir daqui teremos velas acesas para serem depositadas no mar. Meu bem-amado. Meu bem-amado que existe dentro de você e que você desconhece da mesma maneira. Meu bem-amado que eu também desconheço de outra maneira. Escuta-me um pouco. Escuta o suficiente e o quanto suportares de tanta verdade que desejo expôr aqui. Escuta meu desejo exposto de verdade de bem para tua vida. E esqueças, caso não suportes. E esqueça lembrando, mesmo que não aguentes o esquecimento de algo que é teu e que está em mim. Algo que deixaste desde muito e que atravessa meus passos e perfuma o quarto quando não estás. Algo de ti que desconheço, mas que se presentifica quando vais embora e quando somes. Escuta um pouco mais esta prece que te faço ao pé do ouvido. Escuta meu drama sem dor e sem nenhum teatro. Escuta meu drama repleto de felicidade de saber quem tu és e o quê és para mim. Escuta apenas. Escute e não reajas. Não tente reagir, pois as palavras farão contigo o que ainda não pude te fazer por temor de amor. Amor grande. Laço. Amor que lanço ao mundo para que não seja só meu. Amor que sozinho, ainda assim é obra; daquelas raras românticas que evitam o funk batidão que o mundo te obrigou a ouvir. Ouve minha cantiga de roda de ninar. HSIEN/ A INFLUÊNCIA (CORTEJAR)-O rígido trigrama inferior Kên, o filho mais moço, através de sua influência persistente e tranquila, estimula o fraco trigrama superior Tui, a filha mais moça, que então corresponde alegremente a este estimulo. Assim está representada a atração mútua entre os sexos. O trigrama Kên, está embaixo porque, no cortejar o masculino coloca-se abaixo do feminino. É somente quando o cume da montanha está vazio, ou seja, abaulado, que um lago pode se formar. Do mesmo modo o homem, acolhe a pessoa ( mulher ), graças ao vazio. O homem é comparado à montanha, a pessoa (mulher ), ao lago. A relação é estabelecida por iniciativa do homem, que através da receptividade, incentiva a pessoa (mulher), para que se aproxime. Como a relação de amor-sentimento é um dos motivos comuns de consulta ao oráculo, é evidente que o hexagrama pode corresponder a essa situação, em que a influência mútua é particularmente sutil e profunda, mas esse "noivado" pode referir-se a outras relações humanas.É preciso ter em conta a visão sintética do I CHING, particularmente acertada neste caso, que faz de toda troca um processo unico."Ninguém poderá influenciar se não for influenciavel". INFLUÊNCIA. Sucesso.A perseverança é favorável.Tomar um(a) jovem em casamento traz boa fortuna. Pedi aos deuses que se presentificassem em meu desejo. Pedi um amor novo enquanto estendia as roupas no varal. Pedi alguém de carne e osso e que ainda não estivesse completamente esvaziado como as frutas murchas que costumam aparecer por aqui. Pedi repleto de fé. Pedi como se pede pão e vinho. Pedi como se engole o signo do corpo de Cristo. Pedi em purificação. Apareceram vários. Apareceram bêbados, drogados, garotos de programa, artistas, economistas, viados (latu sensu), pais de família. Apareceram pedreiros, sambistas, motoqueiros, sado-masoquistas, poetas e ele. Ele reapareceu, como um truque do destino. Ele reapareceu mais velho e mais encorpado. Mais forte e mais lindo. Não sei se de fato continuava tão poético quanto antes. Mas sei que ele reapareceu no momento preciso onde as flores estavam mortas. E eu, cansado nesta vida de tropecar em cadáveres, sorri em sua chegada. Sorri pela saudade tênue que eu quase esquecera. E ele veio como sempre. Ele veio como vinha. Ele veio como de costume: despreocupado, leve e em dúvida. Veio como o mesmo menino sem melancolia e com os olhos mais vivos que já vi. Veio cheio de desejo e de esperança. Diferente dos outros, não fomos para o quarto vácuo onde só o sexo existe. Rimos um do outro Rimos um para o outro. Rimos de nós e de tanta distância abandonada. Bebemos, comemos, conversamos. Diferente de todos os outros do quarto onde só o oco havia. E quase sem preceber, a eletricidade dos corpos continuava a mesma. Nossos olhos já se conheciam de outros tempos que não este dos humanos. Nossos olhos se amavam mais do que nós mesmos. Ali, nada estava morto. Ali, entre os dois, tudo parecia assar na mais delicada chama que envolve os que se chamam na luz. E quase sem perceber, a eletricidade dos corpos continuava a mesma. E quase sem perceber, a casa ganhou alguma cor novamente. Voltei a ser menino. Tosco. Estúpido. Ingênuo. Arrumei a casa. Fiz compras. Fiquei mais simpático. Perfumei a vida. Escutei um CD. Esqueci o último. E esperei sua nova chegada. E Ele veio sem novelas. Tosco. Estúpido. Sabendo ainda que eu o amava (e talvez ainda o ame, pois a poesia não cura cortes) como ninguém seria capaz de fazê-lo. Sabendo que para ele, a minha vida crua seria espaço. Ele veio sabendo que com ele, seríamos Supermen: para o alto e avante. E mesmo sabendo disso, e mesmo vendo toda a póetica lançada aos seus pés, decidiu ser como todos os outros à sua volta. Cheio de medo. Com olhos de desejo e o corpo desconfiado. Continuou a falar de mulheres, como se elas fosse neste caso, a última salvação diante da última tentação do corpo de Cristo. E falou bastante, considerando-me o amigo que escuta tudo. (a amizade nessas horas é curiosa, porque não deixa de ser cega) Bordei o melhor do bem que eu lhe podia. Bordei todos os panos de felicidade para que erigir nosso armazém, onde ninguém nos incomodaria. Nem a família, nem você, nem o outro dele mesmo. Ali seríamos apenas um. Arrumei a casa. Fiz compras. Fiquei mais simpático. Perfumei a vida. Escutei um CD. Esqueci o último. E esperei sua nova chegada. Ele trouxe outros domingos quando ligou o som da sala na Rádio AM para ouvir o futebol. (eu havia esquecido que além da FM, existem outras ondaS) Quando guardou milimetricamente os biscoitos antes de sair. Quando tocou a campainha na volta cheio de força e afã. Quando lindo, se jogou feliz na cama de casal testando sua durablidade. Nunca dormimos juntos. A cama de casal quando se divide traz alguma responsabilidade. Mas no nosso caso, a responsabilidade não seria áspera. E quase sem perceber, a eletricidade dos corpos continuava a mesma. Tosca. Estúpida. Mesmo sem esconder as estrias e um corpo largo. Enquanto dormia, acariciei-lhe a nuca. Os cabelos da moda que também estavam quase adormecidos como ele. Como eu antes de sua chegada. A respiração sussurrava. A respiração tremia da mesma forma que minhas mãos cheias de cuidado de amor imaculado. Era ali a poesia inenarrável de existir junto. Era ali, o momento inviolável da intimidade respeitosa de delícias. Enquanto dormia e a Tv exibia um jogo entre homens. Era ali a poesia de latência entre a eletricidade da última vez e o tremor que atravessava o corpo inteiro. Era ali, apenas ali. Silêncio de ali. Silêncio de montanhas-russas como um dia já disse à outra personagem de um outro poema de esquecimento. Nesta mesma noite nos conhecemos um pouco mais e um pouco menos ainda do que deveríamos. Nos conhecemos como explosão de desejo afictício para que pudéssemos poema. Bocas e fluidos e fotos e lençóis e o corpo exapandido do homem que, para mim, de objeto não tem nada. Assim que acabamos, o medo que assola o mundo assolou seu discurso. E ele voltou às mulheres como sempre, e reduziu tudo, por vontade própria, à paisagem ordinária e banguela dos héteros obsoletos. Héteros-máquina. Não sofri. Nem por mim. Nem por ele. Não chorei. Nem por mim. Nem por ele. Não houve beijo. E tudo (só na aparência) continuava o mesmo. Tosco. Estúpido. Na manhã seguinte, acordou mais cedo que eu. Tomou café e descarregou as fotos digitais no computador. Não apagou nenhuma. (coisa esta que fez com as mensagens que deixei no celular) Nem mesmo aquelas que jamais estariam aqui. Bateu mais algumas dele mesmo. Deixou-as em silêncio sem a poética das montanhas-russas no computador interrogativo. Foi embora, insistindo na exterioridade de que somos estrageiros. Talvez viva a vida ordinária como todos os outros. Sem risco e sem tesão. Talvez viva a vida de pouca coragem, dentro do disfarce que resolveu construir com receio da guerra de ser vento. Talvez case e tenha filhos. E pegues muitas mulheres lindas de funk batidão. E talvez assassine o desejo. Assassine-o covardemente como fazem os serial killers de fotonovela. E talvez suma. E talvez desista. E talvez queira me deixar em paz, mesmo que esta paz só se estableça quando estamos próximos. Quando estamos no nosso não-lugar dentro do apartamente onde nada nem ninguém faz falta. Neste lugar estranho que é a poesia de acreditar que ainda existem vivos no mundo. Talvez o ame, se é isto que desejas saber. Talvez o odeie, se é isto que desejas não saber. Talvez os dois, para que não fique como cão aguado atrás de osso-migalha-de-afeto. Detesto tropeçar em cadáveres bem como me repetir. Vou escrever uma poesia para aniquilar a sensação de sentimento perdido. Afinal arte serve para isso, não é lady jane? p.s.: tenho uma amiga que disse que nosso amor é perceptível e que é daqueles que dá prazer ao ser visto. Esse poema é para ela também, por ter no peito, a certeza precisa de ter que explodir em verbo para não morrer. Mesmo que a alteridade seja por vezes, tosca e estúpida. Ele Poema + Ensaio fotográfico (Meu Abapuru) Alexandre Sá 2005 *Este pictopoema é parte integrante do projeto TASCHENKATALOGFÜRETRANGEURS - eu também sei ser galeria. All rights and rechts reserved.

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